sexta-feira, 15 de maio de 2009

Internet e o futuro da mídia impressa por Edivaldo Magro


Com vocês um texto produzido especialmente para o blog pelo meu grande amigo Edivaldo Magro, que falará sobre a mídia impressa e digital...

Desde que a internet se insinuou como plataforma virtual de distribuição de conteúdo editorial, há mais de duas décadas, se discute o impacto do meio na circulação de jornais e outras mídias. Há quem vaticinasse – e ainda prevê um futuro nada promissor para os veículos impressos – que o papel deixaria de existir ainda na primeira década do século 21.

A previsão não se concretizou, mas o debate continua com os argumentos de sempre: a geração que cresce conectada ao mundo virtual cada vez mais se distanciará de jornais e revistas. E mais: o meio impresso, até pelas circunstâncias de sua produção, é incapaz de acompanhar a velocidade dos fatos e da notícia.

Em se considerando verdades absolutas essas teses, jornais e revistas devem se tornar peças de museu num futuro bem próximo. Mas é preciso relativizar esse debate e colocar em perspectivas alguns fatos que, se não corroem os argumentos negativos sobre o destino da mídia impressa, iluminam outros aspectos dessa discussão.

Nos anos 50, com o advento da televisão, o rádio que até então imperava soberano como referência de informação e entretenimento estaria com os dias contados. Não foi o que aconteceu. O meio vacilou por um curto período, se redesenhou enquanto mídia e convive sem problemas com a televisão, sem nenhum risco de desaparecer.

Situação semelhante se repetiu na década de 70, quando os holandeses da Philips inventaram o vídeo-cassete e os japoneses aperfeiçoaram e popularizaram. O aparelho que reproduzia filmes era apontado como o arauto da extinção dos cinemas, o que não aconteceu. Como o rádio, o cinema se readequou e continua aí, firme e forte.

Sem entrar nos detalhes da queda de faturamento e audiência do rádio e o fim das salas de cinemas nas pequenas cidades com o advento dos sistemas multiplex, concentrados em shopping, observa-se que a mídia impressa também busca seu caminho para fazer frente à concorrência com o meio virtual – e se alia a ele para sobreviver.

Convergência de mídia, cross media, turbina de notícias... São muitos os termos criados ao longo dos anos para apontar a necessidade de veículos de comunicação interagirem com outras plataformas de distribuição da informação para ocupar lacunas e assim garantirem a sobrevida num meio cada vez mais competitivo.

Na prática isso significa que um jornal impresso precisa investir num site de conteúdo em tempo real e, se antes existia o temor de que o recurso poderia canibalizar a circulação, hoje se tem claro que essa intuição era equivocada, ainda que seja precipitado acreditar que a notícia em tempo real não prejudique a venda avulsa do produto.

Os estudos sobre o impacto da internet no meio impresso ainda não são conclusivos, mas já se sabe que é precipitado e não prospera a tese de que jornais e revistas correm o risco de desaparecer. O que se tem de concreto é que esses meios devem se redesenhar enquanto produto para se tornarem atrativos.

Experimentos diversos estão em curso nos principais jornais do mundo, com a introdução de espaços que se prestam à veiculação de informações mais extemporâneas. Aliás, a impressão que se tem é que o leitor de jornais, em particular, quer algo mais que a notícia, considerando que a mídia eletrônica esgota os fatos antecipadamente.

Investir em tendências de forma a antecipar fatos surge como uma das alternativas de sobrevivência do meio, que já passou por diversas transformações desde que a internet se popularizou e os sites de conteúdo capturaram expressiva audiência. Aqui vale lembrar a experiência do USA Today, dos Estados Unidos.

O jornal, criado nos início dos anos 80 por Allen Neuharth, considerado um visionário à época, é exemplo de interface entre a estética virtual e o meio impresso. Ao optar por textos curtos, abusar das cores, valorizar gráficos e infográficos e enfatizar temas específicos, como esporte e lazer, o USA Today referendou uma transformação.

A princípio, o mercado e a concorrência torceram o nariz para a ousadia, tanto que o jornal amargou prejuízos por quase uma década, mas impôs-se como um modelo de mídia impressa logo imitado exatamente por inspirar-se na estética virtual, popularizada pela internet, com muita cor e interatividade.

Hoje, o USA Today é o jornal de maior circulação dos Estados Unidos e sua credibilidade, outrora contestada, se rivaliza com outros ícones da imprensa norte-americana, como os sisudos New York Times e Washington Post. Al Neuharth, antes um visionário maluco, hoje é visto como alguém que antecipou tendências.

A experiência do USA Today, amplamente discutida nas academias, se tornou emblemática de uma ousadia num momento em que a mídia, tal qual hoje, vivia um momento de paralisia, frente à ameaça da internet, já à época em franca expansão nos Estados Unidos.

Se o modelo do jornal criado por Al Neuharth inspirou mudanças gráficas e editoriais na concorrência e estabeleceu as bases para o surgimento dos chamados ‘jornais populares’, também antecipou o que viria nos anos seguintes, quando a internet se transformou numa preocupação.

Ainda que a média de circulação dos jornais no mundo tenha caído 7,5% ano passado, segundo estatísticas da World Association Newspaper (WAN), entidade que representa as empresas de mídia impressa no mundo, esse fato ocorreu menos por culpa da internet e mais por comportamento dos próprios veículos.

Vendas avulsas e assinaturas que formam a base de circulação dos jornais recuaram por perda de credibilidade dos veículos, cujas opções editoriais muitas vezes traem a expectativa dos leitores – e isso ocorre com mais freqüência em períodos eleitorais, quando interesses diversos interferem na pauta.

Crise econômica e outros fatores também ajudam a explicar a queda na circulação, ainda que se deva creditar parte dela à internet. Mas, enfim, apontar para o fim da mídia impressa é fazer um exercício de futurologia que não lega em consideração as transformações do meio no último século.

Quando se olha essa história em perspectiva, se pode até ser pessimista com relação ao futuro do meio, mas se mostra apressada e equivocada prever um lugar em museus para jornais e revistas, que se remoçam cada um ao seu jeito, capacidade e preocupação para evitar destino tão ingrato e injusto.

5 comentários:

  1. O autor desse texto etá equivocado. Jornais e revistas vão sim ser peças de museu - e muito em breve. A internet, com suas facilidades de conexão, é a plataforma de notícias do futuro... Aliás, futuro que já chegou...

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  2. Marcio Bera (Não Bera-Mar)15 de maio de 2009 às 13:15

    Belo post Edivaldo, interresante a idéia do Rádio e do Cinema, creio que a mídia digital realmente não substituirá completamente o impresso, poderá até tornar mais rápido as informações, mais substituir completamente, eu creio que não.

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  3. http://g1.globo.com/jornaldaglobo/0,,MUL1126913-16021,00-NA+ERA+DA+TECNOLOGIA+OS+LIVROS+SAO+ELETRONICOS.html


    da uma lida ae Rafael, e mostra pro Zé ruela

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  4. que bacana cara!!!!
    parabens ae

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  5. Sou publicitária e amante do meio impresso (jornais, revistas e livros), e com uma visão estratégica posso dizer que o meio impresso será o diferencial do meio eletrônico. Em uma geração onde tudo será disponível na tela do computador, celular, e sabe-se lá que outras tecnologias surgirão, o impresso, o palpável, atrelado ás diversas possibilidades dentro da produção gráfica, o meio impresso atrelará maior valor às marcas que estarão todas no mesmo balaio eletrônico. Nada equivale a um belo impresso colecionável. Minha opnião. Defenderei esta tese em minha monografia. Este artigo servirá como inspiração, OBRIGADA!

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